TOTAL SHOCK 16

SIRVA-SE COM O MELHOR

A ciência aprofunda o conhecimento sobre o papel dos alimentos no controle do colesterol, vilão que ataca 32,4% dos brasileiros entre 14 e 70 anos.

Na foto, o Prof. José Alexandre Filho toma leite com Ômega 3 para prevenir excesso de colesterol.


Há uma confusão no ar que se reflete direto no prato. Quase diariamente, surgem resultados de novas pesquisas que colocam de cabeça para baixo tudo aquilo que se imagina conhecer sobre a influência dos alimentos no controle ou no aumento do colesterol, um dos vilões da saúde. De repente, o ovo, alimento que não se podia chegar nem perto por causa do seu alto teor de colesterol, é redimido. Já sobre a margarina aparecem indícios de que talvez ela seja menos inocente do que se imaginava. Deu a louca nos cientistas? Não, muito pelo contrário. Com o aprofundamento dos estudos, o fato é que a ciência começa a dar a medida certa dos defeitos e virtudes de cada alimento na sua relação com o colesterol.

E essa preocupação tem motivos mais do que justificáveis. Gordura produzida pelo organismo para ajudar na formação das membranas das células e dos hormônios, o colesterol também entra no corpo por meio da ingestão de alimentos de origem animal. Além disso, a quantidade da gordura aumenta com a idade, o peso, predisposição genética e algumas doenças como a que afeta a tireóide. Mas existem dois tipos dessa gordura: o LDL (low density protein), que se deposita nas artérias podendo até entupi-las, provocando derrames e infartos e por isso chamado de mau colesterol, e o HDL (high density protein), apelidado de bom colesterol porque tem a função de carregar dos vasos o mau colesterol. E no Brasil, como no resto do mundo, o bandido leva ampla vantagem sobre o mocinho. Uma pesquisa conduzida pelo Grupo Nacional de Estudo do Colesterol com o apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia, do Ministério da Saúde, e da Merck Sharp & Dohme, cujos resultados serão publicados no próximo número da Cardiovascular Disease Prevention, revista oficial da Sociedade Internacional de Cardiologia, mostra que, na média, o brasileiro tem uma taxa de colesterol aceitável de 183 mg/dl – o ideal é não chegar a 200 mg/dl. Mas dos 8.045 voluntários estudados, de 14 a 70 anos, em nove capitais brasileiras, 32,4% estão com a taxa de colesterol elevada. E ultrapassar a barreira dos 200 mg/dl é como mexer com fogo. Em média, 80% dos eventos cardiovasculares acontecem nesses casos. "E, pela amostra da pesquisa, acreditamos que há cerca de 21 milhões de jovens e adultos com risco aumentado de ter uma doença cardiovascular", explica Armênio Guimarães, coordenador da pesquisa. Salvador, Porto Alegre e São Paulo são os Estados com maior índice de colesterol, enquanto Goiânia e Manaus manifestaram as menores taxas.

Com um jogo de placar tão desfavorável para o ser humano, é natural que a medicina se debruce sobre a importância dos alimentos na diminuição ou no aumento do colesterol. Afinal, é basicamente na mesa que se pode escolher entre domá-lo definitivamente ou perder de vez a partida. Sabe-se bem que é verdade, da importância dos exercícios físicos no seu controle. A atividade física é a única forma bem comprovada de elevar as taxas do bom colesterol porque o estímulo da musculatura favorece sua síntese. E, nesse caso, não é preciso muito esforço. Trinta minutos de caminhada por dia bastam.

A ciência intensifica uma triagem entre o que deve ou não estar na mesa quando o assunto é controle do colesterol e no time dos alimentos que já receberam o sinal verde no combate ao colesterol, junto com as fibras das frutas, verduras e legumes, também estão o azeite de oliva e os peixes, especialmente os de água fria. Esses dois ingredientes estão presentes na dieta dos povos mediterrâneos e dos japoneses, que possuem os menores índices de doenças coronárias no mundo. O azeite contém 70% da boa gordura. Aliás óleos como o de girassol e o de milho possuem Ômega 6 uma variedade de gordura que também controla os níveis de colesterol. Quanto aos peixes, a gordura predominante é do tipo Ômega 3, e também reduz colesterol.
Como se vê, com a seleção certa à mesa e alguma disposição para o exercício físico é possível domar o vilão.

Se a alimentação é fundamental para controlar o colesterol, nada melhor do que oferecer produtos práticos que apresentem essa e outras funções para melhorar a saúde. Pensando nessa estratégia, a indústria de alimentos investiu em lançamentos capazes de atrair quem come pensando tanto na saúde quanto no prazer. Recentemente, chegaram às prateleiras dos supermercados leites e ovos que dão uma mãozinha para quem deseja reduzir as taxas dessa gordura no sangue. A Nestlé lançou o Ômega Plus, que contém os ácidos Ômega 3 e Ômega 6. Já a Parmalat colocou no mercado outra novidade nessa área: o Parmalat Ômega 3. Para quem preferir, há também os ovos Pufa, também enriquecidos com Ômega 3.

No caso desses produtos, não se trata de propaganda enganosa. Os Ômegas realmente funcionam e estão sendo defendidos, inclusive, para bebês prematuros e crianças de até três anos. Um estudo feito pelo especialista holandês em nutrição infantil Jan Taminiau, que esteve recentemente no País, e outros dois trabalhos internacionais (no Chile e na Inglaterra) constataram que esses ácidos desempenham importante papel na formação do cérebro e no desenvolvimento mental da criança. "Os estudos mostram que uma suplementação com os Ômegas é benéfica para o desenvolvimento infantil", conta Taminiau. Quem experimentou gostou. É o caso do Personal Trainer José Alexandre Filho, 31 anos. Ele não tem colesterol alto, mas inclui um litro de leite com Ômega 3 no seu dia-a-dia. "É bom prevenir", afirma.



Na verdade, produtos como esses novos leites estão incluídos numa nova categoria batizada de alimentos funcionais. Esse tipo de produto é considerado funcional porque age além de seus aspectos nutricionais básicos e pode ajudar no tratamento e na prevenção de doenças. O que lhes confere tal propriedade são os chamados compostos bioativos, que são substâncias de nomes estranhos, como licopeno, flavonóides e ômegas, por exemplo, naturalmente presentes nos alimentos – em sua grande maioria nas verduras, nos legumes e nas frutas. Outros exemplos desse tipo de comida são os cereais com alto teor de fibra e também os leites fermentados contendo lactobacilos.

Matéra publicada na Revista ISTO É em 21 de julho de 1999 - Edição nº1555.

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